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Cuiabá, Mato Grosso, Brazil
Dr. Gustavo Moreira Oliveira Cirurgião Dentista formado pela UNIC em 1998; Mestre em Ortodontia pelo Instituto Vellini e UNICID-SP; Especialista em Ortodontia pelo SINODONTO-MT; Pós-graduação em Ortodontia e Ortopedia Infantil pela UNIC; Pós-graduação em Disfunção da ATM e Dor Oro-facial pela UNIC; Especialista em Didática do Ensino Superior pela UNIC; Especialista em Gestão Empresarial focada em Clinica de Ortodontia pela ABF e CIESP-RP; Professor do Curso de Especialização em Ortodontia do CAES-MT, . Professor do Curso de Especialização em Ortodontia SIOMS; Professor do Curso de Especialização em Ortodontia Base Aérea de Campo Grande - MS; Membro da SBPqO

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Odontologia Hospitalar Intensiva: Interdisciplinariedade e Desafios

Maria Thereza F. Martins*

O Cirurgião-Dentista assume um novo papel no desafio de somar esforços atuando de forma incisiva nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs). A dignidade de vida e o conforto do paciente neste momento tão delicado e vulnerável que se encontra devem ser sempre levados em conta pelas equipes interdisciplinares de um hospital A Odontologia veio para mudar conceitos e servir de instrumento facilitador de qualidade de vida para o paciente que está em terapia intensiva.

O cuidado com a saúde integral do paciente crítico se faz necessário para evitar que infecções em outros órgãos e sistemas, que não são ligados ao problema inicial, prejudiquem seu quadro clínico. Nesses cuidados não deve faltar o atendimento odontológico, pois, como já é sabido, a saúde bucal está integrada à saúde geral. Desta forma, infecções no sistema estomatognático, principalmente as periodontais, podem agravar a condição sistêmica do paciente que já está com a saúde comprometida ou favorecer o aparecimento de novas doenças, em especial as respiratórias, infecção bastante comum entre os pacientes críticos (1).

A deficiência de higiene oral em pacientes graves colabora para a proliferação de bactérias e fungos criando na boca um reservatório ideal para uma vasta microbiota que, além de prejudicar a saúde bucal e o bem estar do paciente, pode propiciar outras infecções e doenças sistêmicas. É bom lembrar que na boca encontramos praticamente a metade da microbiota presente no corpo humano, representada por várias espécies de fungos, bactérias e vírus.
Há estudos recentes que estabelecem uma associação da periodontite com bacteremia, endocardite bacteriana, doença cardiovascular, acidente cardiovascular, acidente vascular cerebral, diabettes mellitus, doenças respiratórias, partos prematuros, colonização de artefatos ortopédicos e abscessos em diversos órgãos. (4, 5, 6)Beck et al. (1998) verificaram que as doenças periodontais são infecções crônicas associadas a microorganismos gram-negativos e que representam fatores de risco para eventos tromboembolíticos e ateroscleróticos (4). Dentre todas as infecções adquiridas em hospital, a pneumonia nosocomial é responsável por 10 a 15% deste total; e 20 a 50% de todos os pacientes afetados por infecções falecem. O risco de desenvolvimento de pneumonia nosocomial é de 10 a 20 vezes maior na unidade de terapia intensiva, sendo que o seu desenvolvimento em pacientes com ventilação mecânica varia de 7 a 40% (7). Alguns estudos observaram que apenas 48 horas após a entrada na UTI os pacientes já apresentavam a orofaringe colonizada por bactérias gram-negativas, agentes causadores de pneumonia nosocomial e que o meio mais comum de se adquirir este tipo de pneumonia é através da aspiração do conteúdo presente na orofaringe (8).
Porém, apesar de a importância da higiene oral para a saúde integral do organismo estar clara na literatura científica, a presença do Cirurgião-Dentista nas equipes multiprofissionais das UTIs tem sido negligenciada. A inexistência do serviço odontológico para os pacientes das UTIs, associada à
inadequada higiene bucal realizada, possivelmente devido ao desconhecimento dos procedimentos apropriados pelas equipes de terapia intensiva, devido à falta de inter-relacionamento profissional odontologia/enfermagem é muito comum nos hospitais brasileiros, tanto públicos como privados (3).

Somando-se a essa deficiência, ainda, o fato desse paciente já ter a sua saúde bucal prejudicada pela própria condição em que ele se encontra. Há uma diminuição na limpeza natural da boca, que acontece pela mastigação de alimentos duros e fibrosos, pela fala e movimentação da língua e das bochechas (1). A queda no fluxo salivar, causada pela própria doença, por estresse ou ansiedade, ou ainda pelos medicamentos ingeridos, também contribui para o aumento da placa bacteriana.

Os pacientes de terapia intensiva com freqüência permanecem com a boca aberta, devido a intubação traqueal, determinando a desidratação da mucosa oral. Muitas vezes este desconforto é agravado pela xerostomia permitindo o aumento da saburra ou biofilme lingual (matriz orgânica estagnada) no dorso da língua, o que favorece a produção de componentes voláteis de enxofre que tem odor desagradável (2). Além disso, este biofilme pode servir de reservatório permanente de microrganismos, ocasionando infecção à distância como relatado anteriormente.

Existem produtos especialmente desenvolvidos na área odontológica (pastas dentais e colutórios) para atenuar o desconforto da boca seca causado pela ventilação mecânica e pelo uso de medicamentos. Santos et al. (2008) realizaram um estudo piloto em pacientes críticos e demonstraram que o uso de solução bucal enzimática melhora a aparência inflamatória das gengivas, da secura bucal, da halitose e da facilidade da remoção de debris. Demonstraram ainda que o produto enzimático usado à base de lactoferrina possui interações importantes com a saliva reduzindo a incidência de Cândida albicans e Cândida krusei na mucosa oral.

Portanto, a presença do Cirurgião-Dentista nas equipes interdisciplinares das UTI´s colabora para a prevenção de infecções hospitalares, diminuição do tempo de internação e do uso de medicamentos pelo paciente crítico, contribuindo de forma efetiva para o seu bem estar e dignidade. Esta alternativa além de barata (pois se atua no nível primário de prevenção), simples e viável é de extrema importância e necessidade.

*Cirurgiã-Dentista, Especialista em Odontopediatria e Prevenção Oral

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